sábado, 8 de agosto de 2009

A matemática da hipocrisia

A matemática da hipocrisia
Autor: Enéias Teles Borges

A semana tem sete dias, que multiplicados por 24 horas chegam a um número: 168. A semana, portanto, tem cento e sessenta e oito horas. Trata-se de um simples exercício de matemática, mas que observado à luz das falsas concepções religiosas mostra quão absurdos podem ser os devaneios humanos.

Os sete dias da semana são vividos pelas pessoas dentro de suas possibilidades e/ou escolhas. Cada semana propiciará sete dias para que cada indivíduo pratique os atos da vida, bons e ruins, supérfluos e necessários. É caminho percorrido a cada ciclo de sete dias ou cento e sessenta e oito horas horas. Terminada uma semana é iniciada outra, na grande batalha pela sobrevivência.

Isto significa, também, que cada um arcará com seus problemas!

Lembro-me de uma modinha infantil: “Ema, ema, ema, cada um com seu problema...” A semana traz seus problemas que precisam ser vencidos ou contornados ou suportados. Cada pessoa tem uma forma de atacar a rotina semanal. Cada cidadão dorme e acorda todo dia sabendo que, ao final dele, terá um dia a menos para viver e em seguida um dia novo para trabalhar. É uma labuta sem fim. A matemática da vida nos conduz a uma simples conta: somente o trabalho honesto traz o sustento igualmente honesto.

Desafortunadamente nem todos enxergam assim. Não avaliam o trabalho e a vida das pessoas pela soma de tudo o que é produzido em sete dias. Na realidade ousam julgar os indivíduos por um momento fugaz. Refiro-me aos que praticam atos típicos da cultura religiosa e que por ignorância se consideram religiosos. São pessoas que, não observando tudo o que é feito nas 168 horas da semana, avaliam os demais pela presença no templo em apenas um dia da semana. Isto é, analisam e julgam as pessoas tendo como base poucas horas de um único dia. Pode ser uma sexta, um sábado, um domingo. Não importa! De uma maneira geral cada segmento tem o seu dia de encontro e a membresia se põe a considerar como justos apenas aqueles que “marcam o ponto”, “batem o cartão” – indo, no dia determinado, ao centro coletivo de difusão de cultura religiosa. Lamentável!

Cansei-me disso e sei de muitos que se cansaram. É desagradável ser julgado por pessoas que não sabem todos os caminhos percorridos, as lágrimas vertidas, os sonhos desfeitos, as frustrações que acontecem semanalmente. Analisam o caráter pela presença ou ausência nos centros da fé cega e da faca amolada. As pessoas são obrigadas a ouvir frases surradas: “senti sua falta, que bom que você veio. Estávamos preocupados com a sua vida espiritual...” Como se tivessem condições de zelar pela vida alheia! Logo eles que não passam, em muitos casos, de hipócritas de plantão. São os malditos igrejeiros, que resumem a vida da pessoa na presença ou ausência nos “esconderijos” da fé. Lá estão muitos que durante a semana distribuem e comem o pão maldito e para o templo se dirigem semanalmente para fingir. Isto mesmo! Fingir que são homens e mulheres de fé...

Quer se esconder? Mostrar um rosto que não lhe pertence? É fácil! Basta ser “figurinha carimbada” nos centros da fé massificada! Ali pouco importa o que foi feito ou se deixou de fazer durante a semana. Vale a presença constante semana após semana – lá, junto com os perfumados! Aqueles que tiram os andrajos semanais e põem as roupas bonitas e trabalhadas da falsidade humana...

Cansei-me! A matemática que não considera todas as cento e sessenta e oito horas da semana não me serve! Não aceito ser avaliado, tendo como critério as poucas horas de um dia que se convencionou chamar de especial ou santificado.

Não hesito em afirmar que tal conta é falsa. É conta da maldita matemática da hipocrisia.
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