OS LIMPOS DE CORAÇÃO
Tenho especial admiração
pelas pessoas que fazem o que é certo simplesmente por isso: o certo é certo e
ponto final. São seres que não estão acumulando pontos numa olimpíada rumo a um
paraíso ou qualquer lugar que o valha. São pessoas puras. Parece-me que nascem
puras.
Tive a oportunidade
de conhecer pessoas assim. Algumas são religiosas e outras não. Isso que me
deixou encantado. Tive uma professora, ateia, que era uma dessas almas pias. Um
dia, não aguentando, perguntei-lhe a razão de tanto esmero. Tanta dedicação.
Tanto empenho em educar. Tamanho cuidado em me ajudar na minha monografia, do
meu inacabado mestrado.
Pois bem: a resposta
foi interessante: você é ser humano. Gosto de ajudar as pessoas. Sinto prazer
nisso. A resposta foi simples assim.
Conheço pessoas, de
diferentes denominações, que são de alma limpa, de aspecto cristalino. Pessoas
da paz. São os limpos de coração.
Nunca discuti, na
minha vida, a existência ou inexistência do Cristo Histórico. Não me atenho à
questão da divindade. Sou agnóstico e isso responde muita coisa. Creio, porém,
que tal homem sábio existiu. Não sei se muitas palavras foram ditas por ele ou
colocaram palavras de efeito em sua boca. Concordo com a frase. Os limpos de
coração permitem que ainda exista algo de bom neste cruel planeta.
Não me importa muito,
se Cristo disse ou se alguém falou por ele ou se muitos colocaram a frase na
boca dele. Creio, sem a menor dúvida, que as pessoas limpas de coração são
bem-aventuradas. Não é maravilhoso saber que existem pessoas assim, num mundo
tão corrompido?
Tais pessoas já receberam,
em vida, a recompensa. Viver de forma altruísta permite a paz tão necessária
para uma vida digna. Somente quem tem disposição para viver pelos outros, sem
esperar recompensa, é virtuoso o bastante para ser chamado de bem-aventurado,
um ser de limpo coração. Se tal indivíduo vai ver Deus ou não é questão para
quem acredita ou deixa de acreditar. A pureza de coração já é o grande prêmio
em si mesmo.
Eu queria ser assim.
Simplesmente ter mais interesse nos outros do que, de forma instintiva ou não,
pensar mais em mim, apesar de que muitas vezes não pareça para quem está me
vendo à distância. Quando vim para São Paulo e aqui cheguei em 1979 estava movido
por um sentimento assim. Esperei ansiosamente para cursar a Faculdade de
Teologia. Os anos se passaram e descobri que os limpos de coração não residem apenas
nas academias e lugares distintos. Estão em lugares mil. Muitas vezes nos
locais mais improváveis. Não podemos confundir titulações de mestre, padre,
pastor, apóstolo, ancião, diácono, rabinos e afins, com pureza de coração.
Muitas vezes é a proximidade da luz que promove a cegueira.
Pessoas limpas de
coração são raríssimas. Poucas entre bilhões de homens e mulheres. Sou um homem
de sorte. Conheço algumas almas puras assim.