quarta-feira, 16 de março de 2011

Três deuses, um funeral

Os dois texto abaixo foram extraídos do fabuloso blogue DeusILUSÃO.

Três deuses, um funeral (parte 1)

O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.”  (Isaías; 1:3)

Essa “fala”, comparando o povo de Israel a um boi e a um jumento, é de Deus, um tanto quanto estressado com o seu “povo escolhido”, que, como sempre, não estava puxando adequadamente o seu saco.

Um Deus um pouco mais inteligente teria percebido, de cara, que nenhum povo, por mais primitivo ou humilde que fosse, iria nunca gostar de se sentir possuído por alguém, muito menos da forma como um animal é possuído por seu dono. Mas é assim que Deus vê sua obra-prima, de acordo com o livro sagrado que ele usa para ser revelado ao mundo.

E sorte daquele povo por isso, porque nem toda a obra-prima de Deus teria a mesma sorte:

ASSIM diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão.” (Is 45:1)
É. Existiram nações, no plural, que deveriam ser abatidas pelo “povo escolhido”. Aí vem a pergunta inevitável: “Quem teve mais sorte nesse universo: os que nasceram fazendo parte da nação que é tratada como um animal, ou todo o resto que não teve a honra de ser escolhido pelo Criador de todas as coisas e foi predestinado a sucumbir pelo fio da espada dos seus apadrinhados?” Ou seja, é estar entre o cabresto e a espada.

Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Is 45:7)
A Bíblia está repleta de coisas desse tipo (ou piores do que isso) que depõem fortemente contra a ideia de um Deus, ao mesmo tempo, todo-poderoso e, adivinha, bonzinho

Um crente que venha até você com essa ladainha de que o Deus dele é um Deus de amor, ou é um grande hipócrita, ou um grande imbecil, ou um analfabeto, coitado, que só conhece da Bíblia o que o padre ou pastor leem para ele aos domingos

Eu toleraria os dois últimos, porque não se escolhe ser analfabeto, ou imbecil.

Mas ai de vós hipócritas! Que, por fora, são como os túmulos caiados de branco, mas, por dentro, estão cheios de imundícies!” Vosso Deus foi nascido da hipocrisia da palavra e, pela palavra, é mantido vivo e perfazendo todos os tipos de barbárie ao longo dos séculos. Assim sendo, também pela palavra eu destruirei vossa hipocrisia e vos entregarei de volta o vosso Deus.

Morto.

Três deuses, um funeral (parte 2)

Vamos com calma, que o caminho é longo. É que há hipocrisia demais e Deus de menos.

No texto anterior eu fiz uma coisa totalmente vetada a um ateu: usar versículos da Bíblia de forma isolada, para defender um argumento. Apesar de ser esse o modus operandi das quadrilhas que enriquecem à custa da “palavra”, o ateu não tem a mesma prerrogativa e, invariavelmente, vai ouvir de algum religioso que, em certos casos, é preciso “ler o contexto”.

É assim que funciona: quando a “palavra” é absurda demais e dói nas vistas, o crente recorre ao contexto, como se ele, o contexto, tivesse o poder de mostrar que Deus estava querendo dizer outra coisa. Quando não é o caso, o contexto é dispensado e fica valendo o que está escrito, tal e qual como está no versículo, não sujeito a interpretações, uma vez que é a “palavra” sagrada, eterna e imutável de Deus.

Mas só quando convém. E esse é o segredo para se continuar vivendo com a hipocrisia de se estar tão fortemente convencido a ponto de querer impor ao mundo o absurdo de que há, entre nós, uma coleção de livros inteira escrita pelo criador do universo.

Aí você poderia esperar tudo de livros assim, menos que fossem tão absurdamente humanos e tão intimamente vinculados à época em que foram escritos. Supõe-se que um Deus eterno deveria ser, pelo menos, um tanto divino e atemporal. E quando o crente descobre que não é, ele recorre ao contexto:

Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” (1 João; 4:8)

Deus é amor…

Depois de amaldiçoar toda a humanidade pelo erro de apenas duas pessoas (Gênesis 3:14-19);

Depois de afogar quase toda a vida inutilmente, pois o mal continuou (Gênesis 6:7, Gênesis 8:21);

Depois de criar leis cruéis, intolerantes, absurdas, supersticiosas e preconceituosas (Levítico 15:19, Êxodo 21:20-21, Deuteronômio 22:21, Levítico 21.18-20, Deuteronômio 25:11,12, etc);

Depois de matar pessoas e animais inocentes que nada tinham a ver com as decisões do faraó (Êxodo 12:29, Êxodo 9:3-6);

Depois de matar muitos do seu próprio povo escolhido apenas por estarem insatisfeitos (Números 14:27-29);

Depois de provocar o genocídio de vários povos (Deuteronômio 7:1);

Depois de matar um homem apenas por não querer engravidar a mulher do próprio irmão (Gênesis 38:08-10);

Depois de matar um homem apenas por ter catado lenha no sábado (Números 15 32-36);

Depois de matar duas pessoas apenas por terem mentido sobre a venda de um terreno (Atos 05:1-10);

Depois de ameaçar com castigos eternos os que nele não cressem (João 3:18, Lucas 10:10-16, João 3:18, Apocalipse 21:8);

Depois de matar uma mulher apenas por ter olhado para trás (Gênesis 19:26);

Depois de matar dezenas de jovens apenas por terem zombado da careca de um profeta (2 Reis 2:24);

Depois de dizer que ele mesmo criou o mal, o surdo, o mudo e o cego (Isaías 45:7, Êxodo 4:11);

Depois de dizer que no seu julgamento final haverá os piores horrores (Lucas 21:23, Apocalipse 6:8, Apocalipse 9:6);

Depois de queimar vivas várias pessoas (2 Reis 10-13, Números 11:1);

Depois de exigir que matassem as mulheres casadas e guardassem as virgens (Números 31:17-18);

Depois de impedir que um homem fosse ao velório do seu pai (Mateus 8:21-22);

Depois de humilhar uma mulher que buscava a cura para a filha (Mateus 15:22-27);

Depois de assegurar que não veio trazer a paz, mas a espada e a desavença (Mateus 10:34,37);

Depois de matar uma criança inocente pelo erro do rei que ele mesmo escolheu (2 Samuel 12:14,15);

Depois de castigar com pragas terríveis seus desafetos (Números 16:41-50, Números 25:9, 2Samuel 5:6, 2 Samuel 24:15, etc)

Depois de sadicamente enganar seu povo escolhido (Números 11:18-20 e Números 18:31,32);

Depois de ordenar o massacre de crianças, idosos e mulheres grávidas (Deuteronômio 32:25, Ezequiel 9:6, Deuteronômio 2:33,34);

Depois de muitos outros incontáveis atos violentos, cruéis, intolerantes e sangrentos cometidos diretamente ou incentivados por ele… Deus é amor.
Vá, cristão. Vá correndo ler o contexto. Se é que você lê a Bíblia…

“Se mais cristãos lessem a Bíblia, haveria menos cristãos”(Derek W. Clayton).

Nota: Além de bem redigido e de clareza ímpar, o texto do blogue Deus ILUSÃO traz uma lógica irrefutável...

Enéias Teles Borges

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